Morreu esta terça-feira de madrugada uma lenda do jornalismo
brasileiro, Antônio Carvalho Mendes, que se tornou conhecido como
Toninho Boa Morte por ter editado por meio século a coluna de
obituários do jornal O Estado de S. Paulo. Paulistano de nascimento,
são-paulino barulhento, solitário por vocação, lacerdista fanático,
praticamente morou na redação, chegou aos 77 anos sem nunca ter casado
nem formado família e sucumbiu a uma sequência de enfartes no
miocárdio acompanhados de outras complicações, a última das quais uma
anemia. Será sepultado no cemitério Paquetá em Santos ao lado da mãe,
única companhia que teve enquanto ela viveu.
Quarta-feira foi a vez de outro viajante fora da hora, este ainda mais
precoce. Meu amigo Sidnei Basile, da equipe da reportagem geral em que
trabalhei sob o comando de JB Lemos na Folha de S. Paulo nos anos 70,
nos deixou vitimado por um câncer terrível.
A Indesejada das gentes tem rondado muito as redondezas de meu convívio.
Que Deus tenha e guarde esses companheiros de guerra e paz. E que eles
por nós velem lá do céu.
Em homenagem a estes dois companheiros vai um poema que fiz há algum
tempo sobre a minha vez, quando ela chegar (espero que tarde, pois não
tenho medo de envelhecer e, sim, de não envelhecer)
Será uma Vez
José Nêumanne Pinto
No dia em que chegar o dia,
nem é preciso que eu esteja pronto,
enfatiotado para a viagem de rumo incerto
e com bagagem feita, além de minha nudez.
Na hora em que chegar a hora,
a hora incerta, a que não tem seguinte,
pretendo apenas estar sóbrio e lúcido,
para me servir de boa companhia,
pois longa será a travessia
e não haverá a chance de chamar alguém.
Quando chegar a visita que não se espera,
não lhe servirei café na xícara
nem terei palavras para lhe saudar a entrada.
Quero estar mudo como a matéria, que serei de novo,
pois quanto mais houver silêncio num adeus,
mais comovido será o momento.
Não importa quanto o tempo vivido,
pois será sempre escasso.
Nem a saudade que fica conta,
pois sempre haverá o vazio imenso...
Quando o dia chegar, sem aviso,
não haverá testamentos a assinar
nem encontros combinados a confirmar,
muito menos o testemunho de minha ausência.
Será, como sempre, numa hora precária,
pois, afinal, precárias são todas as horas
e, pelo menos para quem fica, ela terá
a vaga importância que têm todas as horas.
Reservo-me apenas o direito de sonhar sozinho
o sonho definitivo do último sono,
o delírio final da razão partindo
e o último alento da visão, que escapa.
Não é lícito escrever tanto sobre estas coisas
nem cabe aqui descrever o não sabido,
que, no entanto, é só o que se sabe.
Sei apenas que sou pó
e, quando voltar ao pó, de onde venho,
gostarei de ter passado como um cometa,
não apenas um meteorito tonto
a esmagar as pedras que rolam no caminho.
Quando eu passar, definitivamente,
mesmo tendo sido em vão o meu desfile,
quero que meu amor guarde de mim os doces instantes
e os inimigos eventuais tenham cebolas a cortar.
Quando hoje houver, mas amanhã nem talvez,
quem tiver cruz a transportar nas costas
que a fixe sobre o chão que me abrigar
e meus filhos me possam lembrar
como a semente que teimou em germinar.
Quando mergulhar no mar vazio,
de onde vim, também sem o saber,
estarei, como nunca, melado
da placenta pastosa das palavras,
berrando o urro primevo e primal
de todo inexistente que alguma vez tenha existido.
MEU PERFIL
BAÚ DA LITERATURA
-
▼
2011
(22)
-
▼
março
(14)
- IN MEMORIAN
- A INDESEJADA BATENDO À PORTA DO VIZINHO DE SALA
- ARTISTA GLOBAL EM SERTÂNIA
- CONVITE - CELEBRAÇÃO DO ANIVERSÁRIO DE TRÊS ANOS D...
- VEM AI “SUPERMOONS”
- MOLDURA DA SAUDADE
- PRAZERES BARBOSA - MAIS UM TRABALHO DE SUCESSO NA ...
- OS GRÊMIOS ESTUDANTIS
- DIA INTERNACIONAL DA MULHER NA ETE - AFS
- AVISO - BUDEGA DA POESIA EM ARCOVERDE
- VÍDEO - ANJO AGÔNICO
- ARROCHA NEGRADA
- IN MEMORIAN
- CARNAVAL DE 1976
-
▼
março
(14)
POEMAS FLÁVIO MAGALHÃES
IN(PERFEITO)
Dentro de mim
mato deuses, quebro esfinges
dilato o caos concreto
das estrelas incolores.
Dentro de mim
anjos carregam
em suas asas
buquês de espinhos
em busca de infinitos prelúdios.
Dentro de mim
destinos amordaçados
esculpem segredos
cortam angústias
escarlates da paixão.
Dentro de mim
O impossível navega silenciosamente
Em busca de um cais imaginário
Provando no mais profundo abismo
Que eu nada sou.
INSISTÊNCIA
Caiu uma Napalm
no caminho de vidro.
Amargos oceanos
insistem dentro do colete
A circunstância do êxtase
Na faca verde do destino
Insisto na solidão.
Maquio a face-louca
para sobreviver a idéia.
SINAL VERDE
O velho
que cuidava
dos animais.
Morreu de punhos cerrados
Pela previdência.
O gato
atropelado
pelo carro bêbado
ressuscitou um cock-tail
de metáforas sangrentas
nos limites
da Avenida-vidro.
SINAL VERMELHO
O velho
de vidro
cerrou os punhos
do gato bêbado.
O Carro limite
Atropelou as metáforas
Ressuscitou um cock-tail
De animais
Sangrentos da Previdência.
SINAL AMARELO
O Velho de
metáforas
atropelou um cock-tail
de carros sangrentos.
O gato de vidro
ressuscitou limites
de animais atropelados
pela bêbada previdência.
PELAS RUAS
Hoje sai pelas ruas
Queria fazer um poema
Leve como o amor
Um poema mágico
Um poema azul.
Hoje sai pelas ruas
Queria fazer um poema
Que acabasse com a
Solidão das pessoas
Um poema solução
Um poema amarelo.
Hoje sai pelas ruas
Queria fazer um poema
Para ti, não te encontrei
Um poema real
Um poema negro.
Hoje sai pelas ruas
Queria fazer um poema
Que protegesse a flora
E não acabasse com a fauna
Um poema índio
Um poema verde.
Hoje sai pelas ruas
Queria fazer um poema
Que unisse os homens
Um poema livre
Um poema vermelho.
SEM RAZÃO (POEFUSO)
Não
Me
Pergunte
Sobre
O amor
Porque
Eu
Viro
Uma
Cripta.
UM HOMEM VELHO
Você trilhou minha estrada
Atravessou ruas comigo
Deixou que eu escolhesse meus heróis
De repente não estava perto de mim
Havia uma cilada
As balas não eram de hortelã.
Anjos (destinos) guarda estavam de férias.
Queria ver seus cabelos brancos
Ouvir seus conselhos sobre a vida
Você o homem velho que não vi.
A meu pai, Sebastião Flávio Magalhães,
que foi assassinado aos 29 anos em 1972.
SACÓRFAGO
Saudades de um amor mágico
Angústia cigana no meu peito
Vivo o imperfeito trágico
No teu amor pretérito perfeito.
Que pena! O soneto saiu torto
Rima estranha me seduz
Punhal frio atracou no porto
Farol distante, uma luz reluz.
Aquele gosto de sangue na boca
Um grito seco, noturno de emoção
Ardentes certezas, vontade louca.
Pensamentos flutuam, único conforto
Para que viver na tua ilusão
Se eu preferia estar morto.
CORDEL CANCERIANO
(In Memorian de Zilmo Siqueira)
Solidão do quarto acesa
Tristeza em cima da mesa
A Poesia, única medida
Para amenizar a vida...
As contas a pagar
Alguém para amar
Mas a morte veio
Armou emboscada no meio
Deu um sopro no destino
Deixou o repente sem tino
Levando das borboletas as flores
Sugando o néctar das cores...
Dentro de mim
mato deuses, quebro esfinges
dilato o caos concreto
das estrelas incolores.
Dentro de mim
anjos carregam
em suas asas
buquês de espinhos
em busca de infinitos prelúdios.
Dentro de mim
destinos amordaçados
esculpem segredos
cortam angústias
escarlates da paixão.
Dentro de mim
O impossível navega silenciosamente
Em busca de um cais imaginário
Provando no mais profundo abismo
Que eu nada sou.
INSISTÊNCIA
Caiu uma Napalm
no caminho de vidro.
Amargos oceanos
insistem dentro do colete
A circunstância do êxtase
Na faca verde do destino
Insisto na solidão.
Maquio a face-louca
para sobreviver a idéia.
SINAL VERDE
O velho
que cuidava
dos animais.
Morreu de punhos cerrados
Pela previdência.
O gato
atropelado
pelo carro bêbado
ressuscitou um cock-tail
de metáforas sangrentas
nos limites
da Avenida-vidro.
SINAL VERMELHO
O velho
de vidro
cerrou os punhos
do gato bêbado.
O Carro limite
Atropelou as metáforas
Ressuscitou um cock-tail
De animais
Sangrentos da Previdência.
SINAL AMARELO
O Velho de
metáforas
atropelou um cock-tail
de carros sangrentos.
O gato de vidro
ressuscitou limites
de animais atropelados
pela bêbada previdência.
PELAS RUAS
Hoje sai pelas ruas
Queria fazer um poema
Leve como o amor
Um poema mágico
Um poema azul.
Hoje sai pelas ruas
Queria fazer um poema
Que acabasse com a
Solidão das pessoas
Um poema solução
Um poema amarelo.
Hoje sai pelas ruas
Queria fazer um poema
Para ti, não te encontrei
Um poema real
Um poema negro.
Hoje sai pelas ruas
Queria fazer um poema
Que protegesse a flora
E não acabasse com a fauna
Um poema índio
Um poema verde.
Hoje sai pelas ruas
Queria fazer um poema
Que unisse os homens
Um poema livre
Um poema vermelho.
SEM RAZÃO (POEFUSO)
Não
Me
Pergunte
Sobre
O amor
Porque
Eu
Viro
Uma
Cripta.
UM HOMEM VELHO
Você trilhou minha estrada
Atravessou ruas comigo
Deixou que eu escolhesse meus heróis
De repente não estava perto de mim
Havia uma cilada
As balas não eram de hortelã.
Anjos (destinos) guarda estavam de férias.
Queria ver seus cabelos brancos
Ouvir seus conselhos sobre a vida
Você o homem velho que não vi.
A meu pai, Sebastião Flávio Magalhães,
que foi assassinado aos 29 anos em 1972.
SACÓRFAGO
Saudades de um amor mágico
Angústia cigana no meu peito
Vivo o imperfeito trágico
No teu amor pretérito perfeito.
Que pena! O soneto saiu torto
Rima estranha me seduz
Punhal frio atracou no porto
Farol distante, uma luz reluz.
Aquele gosto de sangue na boca
Um grito seco, noturno de emoção
Ardentes certezas, vontade louca.
Pensamentos flutuam, único conforto
Para que viver na tua ilusão
Se eu preferia estar morto.
CORDEL CANCERIANO
(In Memorian de Zilmo Siqueira)
Solidão do quarto acesa
Tristeza em cima da mesa
A Poesia, única medida
Para amenizar a vida...
As contas a pagar
Alguém para amar
Mas a morte veio
Armou emboscada no meio
Deu um sopro no destino
Deixou o repente sem tino
Levando das borboletas as flores
Sugando o néctar das cores...
A INDESEJADA BATENDO À PORTA DO VIZINHO DE SALA
sábado, 19 de março de 2011Postado por Garganta Magalhaes às 12:44
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