MEU PERFIL

José Flávio de Oliveira Magalhães é natural de Sertânia,formado em Letras,Pós-Graduado pela UPE atualmente é Professor de Artes e Inglês na ETE (Escola Técnica Estadual Arlindo Ferreira dos Santos) Fundador e Diretor da Cia. Teatral Primeiro Traço, um dos fundadores dos Jornais; Ângulo, Boca e Placenta, atualmente fundou o Informativo Sertão das Artes é menbro do Jornal de Poesias Cabeça de Rato e tem um livro publicado Anjo Urbano em 1999, sua obra conta o Sertão - Universo, lírico. psicodélico, concretista, como também mostra sem reservas as dores,as solidões e os gozos da vida.

POEMAS FLÁVIO MAGALHÃES

IN(PERFEITO)

Dentro de mim
mato deuses, quebro esfinges
dilato o caos concreto
das estrelas incolores.



Dentro de mim
anjos carregam
em suas asas
buquês de espinhos
em busca de infinitos prelúdios.



Dentro de mim
destinos amordaçados
esculpem segredos
cortam angústias
escarlates da paixão.



Dentro de mim
O impossível navega silenciosamente
Em busca de um cais imaginário
Provando no mais profundo abismo
Que eu nada sou.


INSISTÊNCIA


Caiu uma Napalm
no caminho de vidro.
Amargos oceanos
insistem dentro do colete
A circunstância do êxtase
Na faca verde do destino
Insisto na solidão.
Maquio a face-louca
para sobreviver a idéia.


SINAL VERDE


O velho
que cuidava
dos animais.
Morreu de punhos cerrados
Pela previdência.


O gato
atropelado
pelo carro bêbado
ressuscitou um cock-tail
de metáforas sangrentas
nos limites
da Avenida-vidro.


SINAL VERMELHO


O velho
de vidro
cerrou os punhos
do gato bêbado.


O Carro limite
Atropelou as metáforas
Ressuscitou um cock-tail
De animais
Sangrentos da Previdência.


SINAL AMARELO


O Velho de
metáforas
atropelou um cock-tail
de carros sangrentos.



O gato de vidro
ressuscitou limites
de animais atropelados
pela bêbada previdência.


PELAS RUAS

Hoje sai pelas ruas
Queria fazer um poema
Leve como o amor
Um poema mágico
Um poema azul.

Hoje sai pelas ruas
Queria fazer um poema
Que acabasse com a
Solidão das pessoas
Um poema solução
Um poema amarelo.

Hoje sai pelas ruas
Queria fazer um poema
Para ti, não te encontrei
Um poema real
Um poema negro.


Hoje sai pelas ruas
Queria fazer um poema
Que protegesse a flora
E não acabasse com a fauna
Um poema índio
Um poema verde.

Hoje sai pelas ruas
Queria fazer um poema
Que unisse os homens
Um poema livre
Um poema vermelho.



SEM RAZÃO (POEFUSO)


Não
Me
Pergunte


Sobre
O amor



Porque
Eu



Viro
Uma
Cripta.


UM HOMEM VELHO


Você trilhou minha estrada
Atravessou ruas comigo
Deixou que eu escolhesse meus heróis

De repente não estava perto de mim
Havia uma cilada
As balas não eram de hortelã.
Anjos (destinos) guarda estavam de férias.

Queria ver seus cabelos brancos
Ouvir seus conselhos sobre a vida
Você o homem velho que não vi.

A meu pai, Sebastião Flávio Magalhães,
que foi assassinado aos 29 anos em 1972.


SACÓRFAGO


Saudades de um amor mágico
Angústia cigana no meu peito
Vivo o imperfeito trágico
No teu amor pretérito perfeito.



Que pena! O soneto saiu torto
Rima estranha me seduz
Punhal frio atracou no porto
Farol distante, uma luz reluz.



Aquele gosto de sangue na boca
Um grito seco, noturno de emoção
Ardentes certezas, vontade louca.



Pensamentos flutuam, único conforto
Para que viver na tua ilusão
Se eu preferia estar morto.


CORDEL CANCERIANO
(In Memorian de Zilmo Siqueira)


Solidão do quarto acesa
Tristeza em cima da mesa
A Poesia, única medida
Para amenizar a vida...


As contas a pagar
Alguém para amar


Mas a morte veio
Armou emboscada no meio
Deu um sopro no destino
Deixou o repente sem tino

Levando das borboletas as flores

Sugando o néctar das cores...

ARROCHA NEGRADA

sexta-feira, 11 de março de 2011

Por Ésio Rafael.


Só para justificar o título: é que a alegria da garotada era grande quando chegava um circo pobre, a céu aberto, numa cidadezinha do interior. O palhaço perna de pau saía pelas vias da cidade, acompanhado por uma “reca” de meninos, para divulgar o espetáculo. Era o Clube do Bolinha. Não havia meninas. No calçamento, ouvia-se o toc toc das pernas de pau, e aquele longínquo homem na frente, com um megafone na mão chamando as famílias às portas e janelas para anunciar as atrações da noite, dentre elas, o palhaço, a rumbeira e a peça de teatro A Louca do Jardim, um verdadeiro clássico utilizado pela dramaturgia circense de pequena monta. 

A gurizada fazia a festa. Cada um mais esperto que o outro. Todos com as canas dos braços carimbadas, que se constituíam no passaporte para a entrada no circo, junto à recompensa de um lúdico trabalho:

- Ô raia o sol/ suspende a lua, cantava o palhaço. 

- Olhe o palhaço no meio da rua, respondia a meninada! E aí, o melhor: 

- Arrocha negrada!

- Uuuuuuuuuuu, gritavam em uníssono a todo vapor os participantes improvisados e coadjuvantes do espetáculo ambulante. Descalços, de calção e camiseta, ou no ritmo dos nus da cintura para cima, a meninada ia compondo e incorporando seus sonhos infantis. Sonhos inesquecíveis às futuras lembranças.

À noite, na porta de entrada do circo, outra festa. Tomados banho, cabelos penteados, orgulhosamente exibiam ao porteiro a marca do trabalho. Entravam sem problemas. Aqueles despossuídos de carimbos atravessavam o arame farpado, levantavam a lona e entravam no interior do circo por baixo do poleiro. E olhe que ainda sobravam-lhes as coxas das mulheres, sentadas em tábuas finas e desconfortáveis, exibindo calcinhas de pano com muitos botões. Enfim, o título é em homenagem a todas as crianças pobres que passaram por esses momentos.

Então, vamo nessa?! 

Os filhos de pobre, os mais trelosos, “quebravam o cabresto” com animais, justo que os animais são alvos e presas fáceis para a gurizada. 

Galinha, por exemplo, já está incluída no folclore brasileiro como portadora de cu quente, mas só dava certo com clientes bem novinhos, se não morreria. No outro dia, haja a mãe a desconfiar que o bicho teria mordido a penosa que amanhecera morta. Mas, musa mesmo de verdade, o símbolo da molecada, é a jega. Ainda hoje (pasmem!) a sua passividade, simplicidade, mansidão, o ar de tô nem aí arranca a preferência dos Meninos do Brasil. 

Em Sertânia, Moxotó pernambucano, havia uma jumentinha, por nome de Karolina, pertencente a seu Dão, um cidadão pacato, de baixa estatura, que residia no terreno do campo de futebol do América Esporte Clube. Aliás, clube de elite da cidade, lá pelos idos de 50. Pois bem, Karolina, amarrada debaixo da cerca de avelós (planta originária da África, cultivada no Nordeste), contemplava a garotada e aninhava corações. A molecada discutia o assunto, perguntava quem teria comido Karolina. À noite, fazia-se fila para o cortejo daquela musa sertaneja.

A história se complica aparentemente ao contarmos um fato verídico, segundo Essinho, meu sobrinho. Em Arcoverde, Sertão do Ipanema. E aí, nem Freud nem Piaget, nem Roberto Freire, o Psicanalista, seriam capazes de explicar tal acontecimento. 

Ao dar uma volta no quintal de casa, um longo terreno, em torno das 18h, bem na hora do Ângelus, o pai se deparou com o filho acariciando a jumentinha da casa. Sabe o filme ‘Tudo Que Você Queria Saber Sobre Sexo’, de Woody Allen, onde um Psiquiatra se apaixona por uma ovelhinha?! Semelhante caso. O pai deu o flagra no filho, e foi aquele bafafá! Depois de mil discursos, a mãe, espalhafatosa, vazando corrente pra tudo quanto é de lado, deu o ultimato: “Fuláááaaano, para o esposo, amanhã bem cedinho você vai vender essa porra dessa jega! Esse infeliz, de dedo em riste para o filho, em vez de arranjar uma mulher...vê a nora que ele me arruma!!!. Você, pro marido, vai me dá fim a essa amaldiçoada por qualquer preço, custe o que custar”. 

Dito e feito. O pai, com a consciência de quem foi menino do sertão, laçou a jumentinha e, pacientemente, foi à procura de negócio na feira. “Quer vender por quê?, Perguntou um possível comprador. “Essa jega tá dando muito trabalho lá em casa! Minha mulher é quem luta com ela, vai procurar comida, juntar cambão de milho. Tudo isso porque o meu menino não ajuda, não chega nem perto dessa jega (já o defende, contra qualquer tipo de especulação). A mulher sofre como o Diabo”. Até que o pai conseguiu passar a jumentinha pra frente, por um preço simbólico e de uma vez para sempre. Voltou pra casa ofegante. “Pronto, se for por isso, tá resolvido o problema e eu não quero mais ladainha aqui dentro dessa casa”.

Tudo parecia nos conformes quando um fato estranho começou a surgir. O menino ficou triste, bateu-lhe um fastio, começou a emagrecer, não queria mais estudar, não prestava mais atenção às conversas nem à novela das oito. Fitava o vazio. O pai baixou a cabeça e disse pro seus botões “Vai começar tudo de novo”. A mãe quebrou a resistência, pisou maneiro “Meu filho, o que é que está acontecendo com você? Vá almoçar, você está amarelo”. Nada por resposta. Depois de um mês de roedeira, a mãe sentiu que só havia uma saída: “Fuláaano, pro marido, vá procurar saber que fim levou essa jega, por Nossa Senhora, se não esse menino morre!”. “Puta que o pariu, pensou o pai, só sobra pra mim!”. O pai refez o caminho da feira. Procurou-a em toda parte, inclusive na feira de troca-troca. Reencontrou a jumentinha. Ela já tinha sido trocada por objetos outros, inclusive celular “tijolo” e pomada Japonesa. Deu-lhe um refrescante banho, colocou-lhe um cabresto novo. E, já em casa, falou pra mulher: “pronto, daqui pra frente não moverei mais uma palha pra essa triste! Você é quem vai quebrar o milho seco, debulhar todinho e carregar cambão nas costas!”.

1 comentários:

Wandson disse...

Caro amigo Ésio adorei seu texto, mesmo sem ter vivido nesse tempo por aqui em Sertânia da pra se fazer uma bela viagem no passado...

sou perna de pau e como seria bom se nós colocassemos as nossas pernas de pau e a criançada começasse a acompanhar e contasse conosco... abraços amigo...

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